segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

30 de janeiro de 1972... Um pesadelo chamado Domingo Sangrento

Mural dedicado em homenagem às vítimas do Domingo Sangrento, Derry, Irlanda do Norte



30 de janeiro... Fatídico dia do Domingo Sangrento, um crime que o imperialismo britânico e a família real protege os assassinos daquele massacre, a maioria das vítimas eram apenas jovens de 17 anos que estavam no seu direito de protestar. Na foto vemos um mural na Irlanda do Norte, dedicado às vítimas daquele pesadelo em 1972.

Salvando as distâncias e as épocas, poderia ter sido um domingo tranquilo de reivindicações, como outros domingos de hoje em dia (porque sim, hoje em dia as pessoas saem para protestar, principalmente aos domingos), mas a tirania bélica britânica e umas ordens desde as esferas do poder, mudaram a história de Derry, e por extensão da Irlanda.

Na história houve outros domingos que foram classificados como sangrentos; inclusive na Irlanda, em 1913 e 1920, dois domingos já foram classificados como sangrentos, mas sem dúvida o que é mais lembrado no mundo todo é esse.

O 30 de janeiro de 1972 foi o dia que a história ficou marcada de sangue e fogo, e sem dúvida especialmente recordado na cidade de Derry.

Em 1971 o governo britânico implantou no norte da Irlanda uma política de prisões sem julgamentos contra qualquer um que as autoridades suspeitassem de pertencer ao movimento republicano. Muitos cidadãos eram presos sem ao menos terem sido levados em um tribunal e isso provocou a imediata reação das pessoas.

A Associação dos Direitos Civis da cidade de Derry no condado que se denomina oficialmente Londonderry na Irlanda do Norte, havia convocado para o dia 30 de janeiro de 1972 uma marcha para manifestar a rejeição da população ante essa medida tão arbitrária por parte das autoridades britânicas. Às 14:00 horas as pessoas começaram a marcha de um dos bairros republicanos de Derry até o centro da cidade. Depois de duas horas do início da marcha, o número de manifestantes aumentaria para umas 20,000 pessoas e às 16:00 horas o contingente chegou em William Street.

O governo havia mandado fechar a rua com vários batalhões de elite do Exército britânico, fortemente armados e em carros blindados. Os manifestantes desconheciam totalmente essa chegada dos militares pois, depois de tudo, era uma marcha pacífica e obviamente ninguém entendeu o motivo da presença tão forte do Exército. A marcha continuou até parar de frente aos soldados. Alguns jovens começaram a jogar pedras contra a barricada formada pelos soldados britânicos e eles responderam com gás lacrimogêneo e balas de borracha e depois começaram a apreender os manifestantes. Em meio de toda confusão causada pelo gás, as agressões dos militares e a revolta dos jovens, os soldados britânicos começaram a disparar rajadas de metralhadora contra os manifestantes. As pessoas entraram em pânico e começaram a se dispersar. Por meia hora os militares dispararam 108 rajadas ferindo 14 civis e matando outros 13, posteriormente John Johnston que foi ferido nesse dia acabaria morrendo meses depois.

O descontentamento internacional claramente chegou no dia seguinte, o governo britânico se limitou de toda responsabilidade alegando que os soldados atuaram em defesa própria pois haviam sido atacados com armas de fogo e bombas caseiras. Nenhum dos manifestantes declarou ter visto bombas ou armas entre eles e o Exército não encontrou restos de nenhum dos supostos artefatos no lugar do conflito. Nenhum soldado britânico saiu ferido.
Claro, o governo britânico tratou de inventar desculpas de mil e uma maneiras. O secretário de Estado Britânico, Reginald Maudling em sua declaração no dia seguinte do ataque disse isso: “O Exército devolveu o fogo que foi dirigido contra eles com tiros certeiros e causaram baixas naqueles que os atacavam com armas de fogo e bombas”.

As investigações seguem até os dias atuais, as testemunhas dos soldados envolvidos mudam dia a dia, como por exemplo no dia 24 de junho de 2000 o jornal Irish People noticiou que um soldado (identificado por proteção como 027) afirma que um oficial disse na noite anterior da manifestação: “We want some kills tomorrow” (“Queremos algumas mortes amanhã”). E no exemplar do dia 30 de junho do mesmo ano o soldado identificado como INQ1952 informou que o seu pelotão teve ordens para disparar contra os manifestantes, sendo o ato pacífico ou não.



As vítimas daquele fatídico dia:



John “Jackie” Duddy (17 anos), foi alvejado por um disparo no ombro em um estacionamento em Rossville Park. A bala atravessou saindo pela parte esquerda do peito. Quatro testemunhas declararam que lhe abateram enquanto corria desarmado fugindo dos disparos. Três deles afirmaram ter visto um soldado apontar deliberadamente contra Duddy.





Patrick (Paddy) Doherty (31), foi atingido pelas costas enquanto se arrastava buscando refugio.





Bernard McGuigan (41) estava escondido na esquina de Rossville, saiu agitando um pano branco para avisar de suas intenções, tratando de chegar até Patrick Doherty, que já estava agonizando a morte. Em seu caminho McGuigan levou um tiro na cabeça.





Hugh Gilmour (17) foi atingido quando corria até um apartamento Rossville fugindo dos disparos. Tinha feridas de bala tanto no peito esquerdo quanto direito, também alvejado no braço direito. Provavelmente essas feridas foram causadas por duas balas.





Kevin McElhinney (17) foi alcançado por disparos nas costas enquanto se arrastava buscando refugio. Duas testemunhas declararam que ele estava desarmado. A bala entrou na nádega esquerda, saindo pela parte esquerda de seu peito, próximo do ombro.




Michael Kelly (17) recebeu um tiro no estômago enquanto permanecia junto a barricada de escombros próxima aos apartamentos de Rossville St. Apesar de ter sido acusado por oficiais britânicos por estar portando arma de fogo, seu corpo foi encontrado sem nenhum porte da mesma.



John Young (17) foi ferido com um tiro na cabeça enquanto estava na barricada de escombros. Duas testemunhas declararam que estava desarmado.
William Nash (19) levou um tiro no peito perto da barricada. As testemunhas declararam que Nash estava desarmado e estava tentando ajudar um dos feridos quando foi abatido.




William Nash (19) levou um tiro no peito perto da barricada. As testemunhas declararam que Nash estava desarmado e estava tentando ajudar um dos feridos quando foi abatido.




Michael McDaid (20) alvejado com um tiro no rosto junto da barricada enquanto se distanciava dos paraquedistas. A trajetória da bala, que entrou por sua bochecha esquerda saindo pela parte superior direita de suas costas, perícias indicaram que McDaid pôde ter sido abatido por um atirador de elite que estava nas posições com as tropas britânicas enquanto elas ocupavam sobre as muralhas da cidade.





James Wray (22) foi ferido e posteriormente assassinado por disparos de curta distância quando encostava no chão. Testemunhas afirmaram que Wray estava pedindo ajuda, gritando que não podia mexer suas pernas, quando o alvejaram pela segunda vez.





Gerald Donaghy (17) foi ferido no estômago enquanto corria buscando refugio entre Glenfada Park e Abbey Park. Foi levado para uma casa vizinha, onde chegou a ser examinado por um médico. Ali foram tiradas suas coisas que estavam nos bolsos das calças com objetivo de saber sua identificação. Uma fotografia chegada na polícia mostrava o corpo de Donaghey com várias bombas caseiras nos bolsos. Nem os que ajudaram nos primeiros socorros e nem o médico que atestou seu óbito declararam ver alguma bomba com o garoto. Donaghey era membro do Fianna-Éireann, um movimento juvenil ligado ao IRA.





Gerard McKinney (34) foi atingido justo depois de Gerald Donaghey. As testemunhas declararom que McKinney estaria correndo atrás de Donaghey. Quando ele viu o garoto cair, parou e levantou os braços, gritando “Não atirem! Não atirem!”. Nesse momento levou um tiro no peito.




William McKinney (27) foi alvejado nas costas quando tentava ajudar Gerald McKinney (no qual não tinha nenhum parentesco, apesar de terem os mesmos sobrenomes). Abandonou o lugar onde estava escondido para ajudar Gerard.




John Johnston (59) foi ferido em uma perna quinze minutos depois de ter começado o tiroteio. Morreu por causa de suas feridas quatro meses e meio mais tarde, dia 16 de junho de 1972. Johnston foi a única vítima que não estava na marcha; estava indo visitar um amigo em Glenfada Park.



O imperialismo britânico, que é claro, é o reflexo da criminosa e ditatorial família real apenas se desculpa pelo massacre... Um pedido de perdão ou quantia financeira não vai tirar a dor que as famílias das vítimas carregam até hoje e isso ao menos seria um alívio, a questão é que o mesmo imperialismo britânico ditatorial não julgou nenhum militar responsável pelas mortes das vítimas inocentes.

Na Irlanda existe um grito de resistência, um grito que almeja a futura reunificação das Irlandas, a do norte todos sabem está ocupada até hoje pelos britânicos. Esse grito irlandês significa “Nosso dia chegará!”

Tiocfaidh ár lá! - Nosso dia chegará!


Tiocfaidh ár lá!





segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Como era o natal na União Soviética



Na União Soviética, um lugar tão distinto ao resto do mundo, também celebrava o natal. Com muitas peculiaridades, mas de uma forma bastante parecida ao resto dos países ocidentais. No ocidente a festa passou de ser uma celebração religiosa a ser umas férias “seculares” onde as famílias se reúnem, dando uma atenção maior ao consumo. Na União Soviética também predominava o caráter secular.

Na URSS, e ainda hoje nos países que fizeram parte das 15 repúblicas soviéticas, se tem mais importância a comemoração do ano novo que o dia de natal propriamente dito. Até o ano 1492, o ano novo era no primeiro dia de março. Esse ano foi mudado para o início do ano no 1° de setembro. Foi o Tsar Pedro I, quem colocou o 1° de janeiro como início do ano em 1700, adequando então com o calendário ocidental. Durante o século XIX foram colocadas na Rússia muitas das tradições natalinas como a própria árvore de natal, procedentes da Prússia. Em 1914, o Tsar Nicolau II proibiu muitas dessas tradições ao estar em guerra contra a Alemanha.



Com a Revolução de Outubro se adota em 1918 o calendário gregoriano, para estar de acordo com o resto do mundo. É por ele que o ano novo é comemorado antes que o natal, já que a Igreja Ortodoxa (ainda hoje) segue guiada pelo calendário juliano, o que dá lugar que o dia de natal seja no 7 de janeiro. Desde então, a comemoração do ano novo tem uma notoriedade mais importante, enquanto que o natal se reduz para uma celebração religiosa de âmbito mais privado.

Entre 1929 e 1935 o natal foi proibido, devido o desacordo entre o Estado e a Igreja Ortodoxa. Em 1935 então o natal volta a ser celebrado. Os bolcheviques vendo que no ocidente capitalista as crianças ricas gozavam de elegantes árvores natalinas e de presentes, enquanto a imensa maioria das crianças tinham que se conformar em olhar com inveja os ricos. Isso faz que na URSS se decide desde 1935 comemorar o ano novo com prioridade, com especial atenção a infância. Assim para que nas tradições natalinas, dediquem os presentes e a árvore de natal ao alcance para as crianças.



As árvores de natal foram montadas nas praças, teatros, escolas, palácios dos pioneiros, etc. Também nas casas eram montadas pequenas árvores. Essas nas quais eram decoradas com todo tipo de adornos feitos de vidro ou porcelana, encabeçada por uma estrela vermelha no alto da árvore. As famílias se reuniam e se dedicavam para muitas comidas, cantavam canções próprias do natal e colocavam em prática antigas tradições pagãs de quando o que se comemorava era o solstício de inverno.

O dia 1° se comemorava uma grande festa infantil. As crianças juntavam em suas casas os presentes aparecidos na árvore. Logo em um lugar público ou em uma praça, entregavam-se os presentes para as crianças antes de começar uma jornada de brincadeiras coletivas onde a criança era a única protagonista. Os responsáveis de repartir esses presentes era o “Ded Moroz” (Vovô gelado) e sua neta “Snegurochka” (donzela das neves). O “Ded Moroz” é o equivalente ao russo de Papai Noel, e acude sempre acompanhado pela sua neta. Ao receber os presentes as crianças fazem promessas relativas ao seu comportamento ou estudos.

O “Ded Moroz” acompanhado de sua neta “Snegurochka” 


A maior árvore e majestosa era instalada na entrada do Kremlin, era a árvore da URSS, e ali acudiam as famílias moscovitas como tradição. Luzes e decorações com coroas de flores e papéis deixavam as ruas lindas, as vitrines estavam cheias com os seus melhores produtos, e as pessoas compravam muitas coisas para o jantar. Nesse sentido, o natal soviético era exatamente igual que no ocidente. Nas férias se escutavam canções típicas, passavam filmes próprios da época, assim como desenhos animados natalinos onde misturavam antigas tradições e contos natalinos, com novos entretenimentos para as crianças, os jovens habitantes da União Soviética.

Na última noite do ano, as famílias se reuniam para jantar e beber. Era tradição levar roupa nova, comer e beber muito, com muito barulho, risadas e euforia. “Passará o ano assim como receberá o outro” comentavam todas as famílias soviéticas. A televisão retransmitia as campainhas do Kremlin, e ao acabar estouravam as garrafas de champanhe soviético. Depois a televisão retransmitia uma programação especial com os principais artistas do momento, e outras celebridades como Yuri Gagarin em 1962.



Especialmente foram duras as festas nos anos da guerra. Em 1942, Leningrado cercada pelas tropas nazistas, as autoridades soviéticas decidiram comemorar as festas mesmo naquelas circunstâncias apocalípticas. O objetivo era perturbar o mínimo possível a vida das crianças, em meio daquelas brutais circunstâncias. Naqueles anos, os soldados comemoravam o ano novo pintando os tanques com uma saudação de ano novo. O Ded Moroz entregava os presentes com o uniforme do Exército Vermelho. Mas se houve uma festa especial, essa festa foi a de 1946 onde a tristeza pelos familiares perdidos se misturavam com a alegria da vitória.

Feliz 2017 a todos e a todas! Especialmente para aqueles que tentam fazer realidade os sonhos de construir uma sociedade mais justa e humana.















Fonte: http://www.culturabolchevique.com/